Voando para o Futuro
Segue abaixo a matéria na íntegra. Se gostar, não deixe de conferir a as outras matérias da revista neste link.
Dos pequenos modelos para fotografia aérea (que qualquer um pode adquirir) a verdadeiras aeronaves inteligentes com muita tecnologia embarcada, capazes de grande autonomia de voo, os VANTs (Veículos Aéreos Não Tripulados) estão presentes no mercado em todo tipo de modelos e faixas de preço.
O uso de drones na indústria, embora relativamente recente, já apresenta grande progresso – e reserva novidades ainda mais impactantes para o futuro próximo. No setor de florestas plantadas, essas tecnologias já são utilizadas com grande sucesso, especialmente na fase do georreferenciamento (conforme noticiou a B.Forest em fevereiro deste ano), mas esse não é o único benefício que os drones trouxeram para o segmento florestal.
“Com essa tecnologia, tornou-se possível aperfeiçoar ainda mais o monitoramento da qualidade do plantio, a identificação de áreas de mato-competição, o mapeamento de pilhas de madeira em campo e resíduos pós-colheita, a obtenção de modelos digitais de elevação de alta precisão, os registros fotográficos, o detalhamento de um histórico dos alvos de interesse e o monitoramento ambiental de RL (Reserva Legal) e APP (Áreas de Preservação Permanente)”, comenta Richard Mendes Dalaqua, gerente de geoprocessamento e cadastro florestal da Suzano Papel e Celulose.
Ainda, Dalaqua explica que os drones também trouxeram mais segurança ao setor, dado que, com esses aparelhos, é possível medir a área plantada, as ocorrências, furtos e sinistros em geral, avaliar as áreas inacessíveis e acompanhar à distância as áreas que possam ter algum sinistro, garantindo a segurança pessoal dos colaboradores.
“Ao adquirir um VANT, a empresa é detentora da sua plataforma de aquisição de informações, podendo realizar voos quando quiser, o que traz liberdade e maior controle no acompanhamento das florestas. Além disso, os drones possuem diferenciais em relação às imagens de satélite, como melhor detalhamento do terreno com resolução espacial de poucos centímetros, possibilidade de voar abaixo das nuvens em épocas nubladas e obtenção da topografia do terreno com precisão”, destaca o Eng. Manoel Silva Neto, CEO e fundador da DronEng Drones & Engenharia.
Ele também ressalta que é importante entender que o drone não substitui o uso das imagens de satélite; assim como outras geotecnologias, elas são complementares. Enquanto as imagens de satélite podem ser utilizadas para uma análise macro, mapeando grandes extensões, os drones podem ser utilizados para análises pontuais e recorrentes, trazendo ganhos em produtividade e redução de custos e de eventuais danos aos plantios.
“Além do mapeamento e dos modelos 3D do terreno, há uma tendência no desenvolvimento e uso de câmeras multi-espectrais, que possibilitam verificar o atual estágio de saúde das plantas, fornecido por meio da análise por software da reflexão da luz solar (quanto a planta reflete de luz infravermelha), auxiliando na identificação de anomalias”, diz Ulf Bogdawa, diretor/CEO da SkyDrones.
O Eng. Me. Giovani Amianti, Diretor da xmobots, reflete que a tecnologia está hoje em fase de estabilização tecnológica em termos de sensoriamento, graças aos últimos lançamentos no campo das câmeras multiespectrais. “Em poucos anos, acredito que essa tecnologia já deve fazer parte do dia a dia da operação com drones em áreas florestais plantadas. As tecnologias para modelos digitais de terreno, modelos digitais de superfície, análises de topografia etc. já são utilizadas diariamente. O próximo passo é o uso dessas câmeras, que teve início nos últimos anos e que agora está amadurecendo”, pondera Amianti.
Entraves
Apesar dos diversos benefícios que os drones têm o potencial de trazer ao setor florestal, seu uso ainda não é universalmente difundido devido a alguns entraves que a tecnologia ainda enfrenta. “Entre eles está a barreira tecnológica, pois se tem o senso de que o uso de drones exige grande conhecimento e recursos, o que não é fato.
O grande desafio é fomentar o conhecimento técnico necessário para que os usuários possam entender e focar seus esforços nas análises, benefícios e otimizações que os drones trazem às suas atividades profissionais. É necessário demonstrar as diversas aplicabilidades para que as pessoas comprovem sua eficiência e passem a adotar tecnologias que serão benéficas a elas”, analisa Fabrício Hertz, CEO da Horus Aeronaves. De acordo com Manoel Silva Neto, o mercado mundial cresce exponencialmente.
Diante do potencial do Brasil, contudo, ainda é algo inicial, que enfrenta questões de regulamentação legal. “A legislação foi postada para audiência pública em 2015 e somente este ano foi aprovada. Uma regulamentação vigente traz segurança para investimentos no setor e estimula as grandes empresas a adotarem a tecnologia”, opina.
Com a regulamentação aprovada, o CEO da DronEng considera a correta utilização da tecnologia o principal entrave no setor brasileiro. Por se tratar de uma ciência, diz, existe uma metodologia científica, processos e análises estatísticas que devem ser respeitadas, e o mercado necessita de maturidade e profissionalização para garantir resultados consistentes e uma melhor difusão da tecnologia.
Os voos do futuro
Por se tratar de uma tecnologia emergente, os drones ainda têm grande potencial de evolução para se tornarem ainda mais rentáveis e benéficos à indústria. De acordo com os especialistas entrevistados, há grandes investimentos em pesquisa nas mais diversas frentes, visando ao aumento da autonomia de voo, prolongação da vida útil das baterias, aprimoramento na conectividade e inteligência artificial, maior integração com os softwares de gestão, desenvolvimento de câmeras multiespectrais melhores e outras melhorias de design para operação em condições climáticas desafiadoras.
“Para o futuro, com a inclusão de outras tecnologias, esses dispositivos trarão mais agilidade e facilidade na avaliação de áreas. Acredito que o uso de sensores LiDAR (Light Detection And Ranging) poderá ampliar as capacidades de geração de dados altimétricos com mais precisão e, com tais informações, conseguiremos calcular o estoque de madeira sólida em pé em campo.
Por meio da utilização de sensores mais especializados, como infravermelho, será possível monitorar também aspectos fitossanitários. Com a exploração da realidade virtual, também será possível visitar as florestas remotamente”, prevê Richard Mendes Dalaqua, da Suzano.
Além disso, o gerente de geoprocessamento e cadastro florestal da companhia constata que, com equipamentos mais autônomos e inteligência inserida no VANT, será possível resolver parte dos problemas ainda identificados enquanto ocorre a filmagem, como seguir alvos pré-estabelecidos, buscando situações pré-determinadas, e gerar alertas durante ou logo após o voo.
Dalaqua destaca a possibilidade de termos, em breve, equipamentos ativos que permitirão a interação física com o ambiente, como a aplicação de produtos, combate a incêndios, carregamento de carga ou peças etc. Essa previsão é corroborada pelos especialistas do setor, que apostam no futuro dos drones como tecnologias capazes de intervenções diretas nas operações em campo, como na aplicação de herbicidas, fungicidas e inseticidas.
“A demanda já existe, e o nível de incremento tecnológico já não será tão grande quando tivemos nos últimos três anos. Aí entram as aplicações, por exemplo, como realizar algum tipo de correção como aplicação local de fungicida em uma área ameaçada, de forma pontual, sem a necessidade de percorrer todo o talhão”, salienta Giovani Amianti, diretor da xmobots.
“O benefício final será extremamente significativo para os usuários. Na área florestal, trata- -se de um tipo de tecnologia que auxilia muito, justamente por se tratar de áreas bastante extensas e com maior dificuldade de acesso e monitoramento do plantio. Em poucos minutos, os drones podem realizar análises e informar os dados relevantes para contribuir de forma muito importante para o manejo desses recursos florestais, com grande ampliação e melhoria dessas tecnologias esperada para os próximos anos”, reitera Fabrício Hertz, CEO da Horus Aeronaves.
Ulf Bogdawa, diretor da SkyDrones, resume a conclusão dos especialistas do setor. “Com os avanços tecnológicos, o ciclo será total e completamente automatizado, desde a definição da localização do problema até a sua correção”, conclui.